16 December 2009

O papel da Amazônia.

As florestas tropicais, entre as quais a Amazônia é a maior e mais importante, são personagens principais na discussão climática. Isso porque elas estocam em sua biomassa quantidades incríveis de carbono (C).

Imaginem um experimento no qual pegamos um quadrado de floresta amazônica de 100 metros de lado. Isso é exatamente 1 hectare. Agora imaginem que cortamos todas essas árvores, arbustos, cipós e plantas e os deixamos secando ao sol sobre uma enorme balança. Depois que toda a água fosse evaporada teríamos perdido metade do peso que o ponteiro inicialmente indicava. Dessa massa seca que ainda resta, metade é carbono.

Conservadoramente falando, temos em média 100 toneladas de carbono em cada hectare de floresta tropical. Como esse peso está diretamente relacionado à biomassa, em alguma regiões essa quantidade pode ser até três vezes maior. Acontece que quando as florestas são queimadas esse carbono que estava armazenado se libera, e cada átomo de C se mistura a outros dois de oxigênio (O) formando gás carbônico, o CO2. Nesse processo, ganha-se mais massa numa proporção de 1 para 3,6. Conclusão: ao desmatar e queimar 1 hectare de floresta tropical, temos uma emissão aproximada de 360 toneladas de CO2 para a atmosfera.

Isso explica porque as taxas de desmatamento na Amazônia brasileira nas três últimas décadas nos coloca como quarto país de maior emissão de gases de efeito estufa do mundo. Entre 1996 e 2005, desmatamos em média 2 milhões de hectares ao ano. Apesar dessa média ter caído drasticamente nos últimos cinco anos para 700 mil hectares em 2009, ainda há muito o que fazer para se chegar a zero.

No começo de dezembro, um grupo de cientistas brasileiros e estrangeiros publicou um artigo na revista Science*, no qual estimaram um investimento necessário entre 7 e 18 bilhões de dólares para zerar o desmatamento na Amazônia até 2020.

É claro que o desmatamento não acontece somente no Brasil. Portanto, quando somamos tudo o que é desmatado anualmente no mundo, a quantidade dessas emissões fica em volta de 15% do total. Em 2005, a Coalizão dos Países Florestais propôs um mecanismo de compensação e incentivos financeiros para redução das emissões causadas por desmatamento dentro da Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas.

Esse mecanismo, chamado de REDD, é um dos possíveis grandes trunfos da conferência que se realiza aqui em Copenhague. O texto que está atualmente sob negociação ainda tem pontos que estão longe de consenso devido à diferença de condições institucionais, cobertura florestal e capacidade de monitoramento de cada país.

Os temas mais importantes e ainda sem decisão são**:

1)Metas de redução de desmatamento: a questão é que se deixe um texto frouxo ou um com indicações objetivas de redução global de desmatamento. Por exemplo, zerá-lo até 2030.


Tasso Azevedo - Status da Negociação from Brasil Clima on Vimeo.


2)Como será o financiamento: os países em desenvolvimento querem menção de números que serão alocados, na ordem de 20 bilhões de Euros, e é claro que os desenvolvidos querem evitar.


Tasso Azevedo - Financiamento de REDD from Brasil Clima on Vimeo.


3)Salvaguardas: por exemplo, respeito aos direitos tradicionais e não conversão de florestas naturais em não naturais.


Tasso Azevedo - As Salvaguardas para REDD from Brasil e Clima on Vimeo.


4)Como será o monitoramento: muitos países, diferentemente do Brasil com o INPE, não têm qualquer condição de monitorar suas ações e taxas de desmatamento. E muitos, principalmente China, têm muita dificuldade em aceitar monitoramento externo.


Tasso Azevedo - Monitoramento em REDD from Brasil e Clima on Vimeo.


5)Sistema Nacional VS. Sistema Subnacional: essa é uma discussão bastante técnica que grosseiramente diferencia se as atividades de redução de desmatamento serão implementadas nacionalmente, subnacionalmente ou com as duas modalidades em cada país.


Tasso Azevedo - Sistema Nacional nas Discussões em REDD from Brasil e Clima on Vimeo.



Tasso Azevedo - Sistema Nacional vs. Sistema Subnacional em REDD from Brasil e Clima on Vimeo.


A Amazônia e todas a florestas tropicais do mundo não são apenas importantes para o equilíbrio climático explicado acima, mas a fortaleza da maior parte da biodiversidade encontrada no planeta. Além disso, são moradia para milhões de pessoas de que delas dependem à sua sobrevivência, e são verdadeiras fábricas de chuva, fundamentais para agricultura e geração de energia, principalmente no Brasil.

É fundamental que saia daqui de Copenhague um acordo sobre REDD. A partir dele, teremos uma verdadeira mudança de paradigma na forma como relacionamos floresta e desenvolvimento. E o Brasil só tem a ganhar com isso.

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Observações:
* The end of deforestation in the Brazilian Amazon (04/12/09)
** Como pôde ver, para cada um dos temas de negociações, disponibilizei vídeos de aproximadamente um minuto com explicações do Tasso Azevedo, consultor especial do Ministério do Meio Ambiente sobre mudanças climáticas, durante uma reunião realizada ontem (15/12) pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.